quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Volta!!

Texto Antigo e inconcluso. Não sei se o termino. Vencer a preguiça tá difííííííícilllll.

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Madrugada de sexta-feira às três da manhã. Volto pelo aterro com a janela aberta, pois o frio é capaz de não só enxugar as lágrimas do meu rosto como também pode ser capaz de congelá-las. O gosto acre do vinho voltando a minha boca com uma insistência muito desagradável é a lembrança de uma noite ruim. Tenho tontura e náuseas e quero dormir, mas não posso, ou pelo menos não devo. Parece não ser aconselhável dormir ao volante bêbado. Porém também não é aconselhável dirigir no estado mental em que me encontro.

Estou bêbado por uma infantilidade. Reconheço. Acredito que somos imbecis por sermos muito otimistas. Embora o pessimismo também nos deixe tão imbecis quanto o otimismo.

Quem neste mundo quer ser razoável certamente não sabe o que é viver. A vida se mostra para nós de maneira assaz aleatória que nos força a tomarmos atitudes que contradizem muitas vezes o que nós queremos. Afinal, o que nós queremos? Sermos amados ou amarmos? Respeitar ou sermos respeitados? Compreendermos ou sermos compreendidos?

Ao passar pelo monumento dos pracinhas relembro minha infância quando ao passear pela galeria dos soldados que tombaram na Itália eu detinha um sentimento misto de admiração e medo, respeito pelos mortos e vontade de superá-los.

Tenho um sentimento muito estranho sempre que tento compreender a vida e como sou afetado por ela. Nunca somos inteiramente felizes, pois sempre que detemos tudo aquilo que queremos nosso temor é o de perder tudo e suas perspectivas desmoronarem a sua frente como um castelo de areia da criança que passou a manhã toda construindo seu projeto que inclusive não tem a menor importância para todas as outras pessoas da praia. Por outro lado quando não possuímos aquilo que queremos somos acossados pelo medo de nunca conseguir. E no fim é sempre pelo mesmo motivo egoísta que nos move: sempre porque EU quero. Mesmo quando ficamos todos alegres juntos sempre partimos da perspectiva de que EU quero ser feliz.

Sempre que eu passo pela Praça XV tenho vontade de acender um cigarro, mas não fumo mais. Não pela saúde, mas pelo dinheiro. Além do mais não me é confortável a idéia que talvez um dia eu precise ter de parar de comprar os maços de cigarro para pagar médicos para me manterem vivo e gozando de “boa saúde”. Adoro esta ironia.

Vejo dois adolescentes no ponto de ônibus da presidente Vargas ao meio fio. Se eu jogar meu carro para a direita mataria ambos com a facilidade de quem diz supor fazer algo assim. É incrível como nossa sociedade funciona: Bastaria um dia muito ruim e duas almas entrariam para o reino dos céus. Não que eu acredite, mas se Deus existe, é suprema bondade e só quer fazer o bem ele é o ser mais incompetente (imagine se a incompetência divina é tão vasta quanto seu suposto poder!!!).

A dor de cabeça que terei amanhã vai ser um das memoráveis. Pode ter certeza disso. Uma dor de cabeça digna de um épico. Ou uma ode. De qualquer maneira isso me serve para lembrar que ainda continuo vivo, pois vivo numa condição deplorável. Sempre cometendo o mesmo erro de ser uma pessoa legal e honesta em um mundo no qual todas as pessoa somente se dizem assim sem de fato o ser. Parece que somente uma coisa é certa: a dúvida, mas mesmo a dúvida por seu caráter de certeza pode estar errada, ou seja, não existe formula para estar certo. Apenas intuição. Como podemos admitir nossas verdades sem saber se elas são necessariamente verdadeiras? Afinal além de nossas verdades estarem de acordo com o que queremos elas precisam estar de acordo com o que o mundo deseja de nós. Imagine se cada pessoa no mundo possua o mesmo dilema que nós? O dionisíaco mundo das incertezas apolíneas.

Finalmente chego em casa. A estranheza aconchegante do lar. Será que sempre voltamos para voltar a sair? Queria ser mais forte. Queria que essas coisas não me afetassem tanto. É difícil não pensar nisso. Mesmo com problemas muito maiores. Mesmo a razão dizendo que isso é um pseudo-problema ou algo muito efêmero. Não sei, mas essa vontade louca de ser feliz é que atrapalha tudo. É o que nos amarra em nossos próprios grilhões. Minha casa está muito bagunçada e não tenho a mínima vontade de corrigir este problema. Quero deitar na minha cama e tentar dormir. Conseguir não é garantia. Ainda vou me torturar o suficiente até conseguir perder a consciência. Remoendo coisas velhas eu sigo a noite. Essa escuridão sem fim no meu peito cuja única luz se ausentou. Somos todos uns mamíferos bobos.